quinta-feira, 26 de abril de 2007

Lembranças de família, a memória das casas da cidade

Liberte-se da sufocante rotina metropolitana, fria e fugaz, para se deter, por alguns momentos, na contemplação poética que uma cidade pode oferecer.



Belo Horizonte é hoje uma cidade relativamente nova. 109 anos, entretanto, é tempo demais para inúmeras vidas começarem e acabarem por dentre suas vielas. Neste intervalo de tempo, suas casas armazenaram vidas e contaram histórias. Os complexos romances escritos em seus contornos em apenas um século perpassam pelo rural, pelo clássico, pelo moderno, até chegar ao mais absurdo da contemporaneidade. Da mesma forma que o Jazz atravessou em 50 anos todo o percurso que a música erudita fez em 500, a capital mineira atravessou mudanças urbanísticas em 100 anos que algumas cidades demoraram um milênio para maturar. Pequenos e grandes indícios produtores de fábulas bucólicas na rotina veloz da vida moderna.

Em contramão desta velocidade esta matéria lhe faz um convite para rever a cidade que nos cerca. Um “olhar com outros olhos” ao emaranhado de serviços e necessidades dos centros urbanos. Tal qual o explorador Marco Polo e o imperador Kublai Khan, caminharemos juntos pelos tão conhecidos cantos da cidade, surpreendendo-se a cada novo ângulo descoberto, e revelando um universo de segredos que se escondem muito mais que o lugar comum.

Reinos da memória



Nossa jornada se inicia no Padre Eustáquio, um bairro de alta densidade comercial na região noroeste da capital. A avenida homônima, que corta toda a região, repleta de estabelecimentos comerciais de todos os tipos é uma das mais movimentadas da cidade. Embrenhando um pouco fora de seu eixo, escorregando pelas vielas que cortam essa avenida principal, encontra-se uma casa de época, construída há mais de 60 anos. Uma campainha barulhenta chama a família de moradores, descendentes diretos do ex-combatente da Segunda Grande Guerra, José Xavier – ouPai Xavier, como costumavam chamar os mais íntimos, que comprou a casa após retornar para o Brasil, em 1945.

"Eu cresci aqui. Vim para cá com dois anos e pouco, estou atualmente com 63 anos. Meu pai viveu o resto da vida dele toda aqui, minha mãe também. Agora moramos nós, os filhos, e os netos e bisnetos" relembra Maria José Xavier, filha do ex-combatente. As quatro gerações que já viveram nesta casa construíram um emaranhado de eventos e memórias únicas, onde cada cômodo e objeto têm uma longevidade histórica que se funde a alma dos seus habitantes.

Os detalhes de época, o lavabo na sala de jantar, a clarabóia sobre a escada, o antigo filtro de barro, os muros baixos cercados apenas por uma singela grade, a TV preto e branco. Tudo isso se tornou parte do universo cultural da família Xavier.

Perto da casa de Maria José, no bairro Carlos Prates, em meio às reformas das fachadas e atividades constantes na região, outro reduto do passado se esconde. Ali, no meio de duas moradas forçadamente "mudernas", a casa do senhor Walter Diniz, 68 anos, mantém orgulhosamente os indícios arquitetônicos da cidade antiga: uma casa construída há 55 anos que não tem pudores de revelar a fraqueza do tempo passado nas épocas atuais.

Walter conta com saudade e orgulho a história do seu mundo dentro daquele espaço. De nomenclatura dissolvida, o famoso barracão, associado muito à pobreza, é "desestereotipado" pela memória do homem. A casa dele também agregou quatro gerações da família: sua mãe e pai (falecidos), seus filhos e seus netos - esses últimos estampados em fotografia na sala e na sua mente. Seus descendentes foram tomando seus rumos, mas a residência nunca está vazia; almoços de domingos, visitas diárias, churrascos, encontros que parecem fazer a família inteira voltar no tempo.

Quando está sozinho, Walter tem uma rotina que aos olhos do frenesi mercadológico é simples e sem graça. Ele exala o prazer de viver no local, que ele mesmo chama de "meu reino". “Levantar cedo, regar a roseira, alimentar os pássaros, dar uma olhada no Fusca 1966, ir para o trabalho (numa lavanderia industrial da Pampulha), chegar em casa, receber alguém, ir para a varanda (que não tem a visão ameaçada por muros gigantes) e tomam casas aqui na rua já morreu. É uma coisa ruim, você ver todas as pessoas que conviviam com você irem embora”, lamenta. Mesmo assim, diz, com ironia e convicção: “Adoro morar aqui, e daqui a gente só sai se for pro Bosque da Esperança".

A memória perdida



A nostalgia, presente no ar abafado do interior do que outrora foi uma casa do tradicional bairro de Santa Teresa, destoa do descaso que habitualmente é reservado às construções esquecidas. Seus vizinhos já não sabem quem foi o dono do lugar.

Um cadeado velho preso a correntes também velhas obstrui o caminho através do portão enferrujado. Um caminho tomado pela vegetação natural que é, há um bom tempo, a única coisa viva que mora por aqui. As janelas e portas trancadas do casarão abandonado já não representam a mesma segurança do momento em que foram fechadas pela última vez. Qualquer eventual invasor facilmente transformaria essa velha casa de telhas faltando em uma nova morada. E muitos o fazem.

O muro da frente do casarão abandonado está trincado graças às colisões dos carros, que fazem a curva da Avenida Flávio dos Santos em alta velocidade. Invisíveis em uma cidade-capital que cresce a cada dia, principalmente em bairros majoritariamente residenciais - como os da região leste -, as casas abandonadas são memórias vazias, órfãs de cuidado, indícios quase pulverizados de um passado inexplorado.

Em diferentes cantos da cidade, casas esquecidas se deterioram com o tempo. À margem das novas construções modernas, essas casas ostentam em suas fachadas parte do tempo em que foram construídas, tijolo por tijolo, de forma não-industrial. Retratos de épocas que se desfazem com o passar dos dias, como todas as coisas que também acabam.

Seu preço histórico não pode ser medido pelas cotações dos trustes imobiliários. As novas gerações desconhecerão essa parte da história da cidade, que morre com as ruínas do que sobrou desses antigos casarões. As lembranças guardadas ali permanecerão trancadas.

Grupo: Fábio Corrêa; Guilherme Ávila; Luciano Márcio; Wesley Diniz; Victor Diniz

9 comentários:

8o JN 1/2007 disse...

Oi pessoal,
a idéia é muito interessante, mas sugiro cuidado com o uso dos links (como jazz, por exemplo. Qual sua função na perspectiva dessa reportagem?) e no `tom` informativo do texto. Acho que o primeiro parágrafo precisaria ser revisto para apresentar melhor a proposta da pauta.
Geane

8o JN 1/2007 disse...

E os videos prometidos para esta materia?????
Geane

Guilherme Avila a.k.a RODO disse...

Como prometidos,vídeos postados!

Guilherme

8o JN 1/2007 disse...

De quem é essa reportagem? A idéia é muito legal, mas acho o texto grande para se ler na internet. E os hiperlinks não trazem informações que enriqueçam a matéria.

Andréa

8o JN 1/2007 disse...

Os links são desnecessários, um link para a Prefeitura de BH na primeira palavra é um risco do leitor acessar e não voltar. Gostei do primeiro parágrafo. Bons personagens, boa idéia, mas o texto meio grande demais.

Hermano

8o JN 1/2007 disse...

A pauta é bastante interessante, mas o texto contém alguns errinhos básicos de concordância e gramática.
Alguns hiperlinks também poderiam ser retirados pois não acrescentam nada à informação.

Tatiana

8o JN 1/2007 disse...

O assunto é bem interessante, mas o texto ficou "devendo" um pouco. Um link para "bosque da esperança" me pareceu um pouco sem sentido.
Ana Carolina

8o JN 1/2007 disse...

Os vídeos sâo ótimos !!! Marina

8o JN 1/2007 disse...

complexo, não consegui chegar até o fim. no lead, seria interssante dizer exemplos de cidades para compararmos o que é dito, para que o leitor tenha uma orientação do que é pôsto sobre a construção clássico-moderna de BH, em seus 109 anos...