quinta-feira, 29 de março de 2007

Outra cidade, outra vida

Fernando, conhecido como “Uma ótima pessoa”, procura emprego em sua cidade para arrecadar dinheiro com o objetivo de se casar com “Thay Nagi”. Dentre as possibilidades de trabalho do casal, está o posto de dançarina em uma boate, o qual ela se propôs a assumir. Pedro Lima é um belo-horizontino que trabalha como DJ e também recebe jogando games. Cláudio é diretor de negócios de uma agência de publicidade brasileira; participa de reuniões e se atualiza com as tendências do mercado andando pela cidade. Tudo isso seria considerado normal se acontecesse na vida real, mas tratam-se de histórias surpreendentes em uma cidade invisível, o
Second Life (SL).

O jogo virtual, que já tem mais de quatro milhões de membros no mundo todo, é um ambiente econômico e social, uma mistura de realidade virtual com um site de relacionamentos. Muitos membros ainda escolhem ter uma vida bem parecida com a real, mas o que mais fascina os freqüentadores são as infinitas possibilidades que extrapolam os limites geográficos. Os usuários podem conhecer pessoas e lugares de todo o mundo, criar objetos, fazer negócios, ser outra pessoa, se teletransportar, voar, dentre outras. Há a possibilidade de se procurar o nome de uma cidade qualquer e se teletransportar para ela. Segundos depois o personagem se vê no lugar, com os edifícios e ambientes aparecendo aos poucos e logo vem a interpretação do sentido do lugar. Não gostou? Pode viajar para outro país em um segundo.

Fernando Souto, de 29 anos, trabalha na vida real como recepcionista de um hotel em São Paulo. É solteiro, mas seu personagem “Uma ótima pessoa” pretende se casar “virtualmente” com uma garota do Rio de Janeiro. Como na vida real, todo casório custa muito dinheiro. Para bancar o conforto e as despesas, eles estão a procura de emprego. Além de gastar mais de uma hora diária com o relacionamento, ele passa em média 30 minutos em cassinos, outros 30 minutos em danceterias e 40 minutos ajudando pessoas gratuitamente na cidade de São Paulo que foi projetada no jogo. São quase 3 horas por dia vivendo a sua “segunda vida”.

O fotógrafo publicitário de Belo Horizonte, Pedro Lima, de 28 anos, já chegou a ficar três semanas sem se desconectar do jogo. Deixava o computador ligado direto, e jogava 12 horas por dia, em média, nessa época. Ele conta que a maior emoção que viveu no SL foi uma representação do que gosta de fazer em sua vida real. Pedro Tavares Peterman, seu personagem, foi chamado para trabalhar em uma boate, onde vários avatars (modo como as pessoas virtuais são identificadas) se encontram, dançam, “ficam” e bebem, como em uma boate real.

Já existem 36 cidades e ilhas brasileiras no jogo. Uma praça de São Paulo é um dos lugares mais visitados. Lá sempre há vários grupos reunidos, além de pessoas pedindo orientações sobre como jogar e como ganhar dinheiro. Talvez essa possibilidade de ficar rico sem suar a camisa, seja o motivo de tanta cobiça entre as pessoas. O exemplo mais divulgado pela mídia foi o da chinesa Ailin Graef, que se tornou a primeira milionária do SL comprando e vendendo terrenos. Muitos aceitam qualquer trabalho, como de dançarino, segurança, garçom e até de “homem banner”, facilmente encontrados nos centros das capitais brasileiras na vida real.

Na praça paulista existe um distrito policial. Logo na recepção é possível registrar um boletim de ocorrência, apesar de as leis locais não serem propriamente divulgadas. Dentro do edifício há uma cadeia, mas ninguém está preso. O primeiro conselho de justiça do Second Life está ao lado desse distrito, e, ironicamente, é um prédio vazio, sem ninguém à disposição para atender a quem precisar.

Outros lugares para diversão e cultura são as praias com espaço para lual, jardins, salas de jogos, botecos, shows, partituras de orquestra, e até a primeira galeria de arte brasileira na Internet. Em todos os ambientes existem bolhas flutuantes que, ao serem clicadas, permitem ao avatar realizar determinada atividade. No carnaval, a IG, patrocinada pela Fiat, realizou uma festa com direito a trio elétrico e fantasias. Clicando nessas bolhas, os personagens com samba no pé saíam dançando pela avenida. A banda Irlandesa U2 e o Dj Fatboy Slim também inovaram e fizeram shows no SL, uma espécie de clipe das bandas.

Marcelo Zorzanelli, que escreveu a reportagem especial sobre o SL da Revista Época do dia 19 de março, fez uma festa no dia 21 de março com o avatar Marcelo Zeffirelli. Mais de trinta pessoas compareceram. Quando perguntado se estava ficando viciado com o SL, Zeffirelli disse “não, eu odeio” e que a festa foi realizada porque seus editores haviam solicitado. Logo depois, ele estava parado na pista de dança, reclamando do som, enquanto a mulherada não parava de dançar.

Na mesma festa, “Uma ótima pessoa” e “Thay Nagi” dançaram, namoraram e conversaram em um canto sobre como iriam conseguir os tão falados Lindens, a moeda local, para realizar o tradicional sonho de casamento.

O sexo no Second Life

Grupo: Cristina Alkmim, Juliana Minardi, Maria Eduarda, Mariana Teixeira
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4 comentários:

Unknown disse...

A matéria ficou interessante e bem próxima da perspectiva cultural, mas para ficar mais adequada ao recorte editorial 'cidade invisivel' seria interessante se explorassem melhor as relações com o ambiente cultural de BH, através de personagens.
Geane

8o JN 1/2007 disse...

A matéria é muito boa. Mas podia explorar um ambiente de BH.

Andréa

8o JN 1/2007 disse...

Os hiperlinks sao muito interessantes e ampliam a riqueza semantica da materia (tirando a foto do publicitario sem camisa :P). Mas tem que ter cuidado com algumas classificações, como "países" - que nao existem dentro do SL - e "jogo", o que o SL não é.

Faltou falar também que os empregos no Second Life dão muito pouco dinheiro, de verdade. Mas é bem interessante pra quem quer conhecer, bem apurada e tal.

Fabio Correa

8o JN 1/2007 disse...

Gostei... Mesmo para quem não conhece o Second Life, dá para entender... tá bem explicado....
quanto ao editorial, eu acho que poderia seguir um caminho tipo, mostrar se rola interação fora do mundo virtual entre as pessoas. Tipo "orkontro" das comunidades do orkut....

Agora, para que aquelas fotos dos personagens??? não faz sentido nenhum na matéria... Colocar uma foto do carinha, parece que só para mostrar que ele é real, é mto esquisito. Uma foto é mínima... pequena demais. E o Outro cara parece aqueles dançarinos de axé de Porto Seguro... tsc, tsc, tsc...

Pedro dos Anjos