sexta-feira, 30 de março de 2007

Pombos-correio resistem à tecnologia e voam alto para manter a tradição

Na vida corrida dos mais de dois milhões e duzentos mil belorizontinos, a maioria não tem tempo para apreciar o vôo dos pombos-correio. Mas para os criadores e aqueles que conhecem as aves, o trajeto delas é vigiado de perto. Segundo o aposentado Euler Nunan, que mora no bairro Minas Brasil, os criadores se tornam conhecidos nos bairros onde vivem. “Quando cai um pombo em algum lugar, as pessoas já acham que é seu”, conta. Pequenos acidentes, como batidas em antenas e vidraças e cortes em linhas de cerol também acontecem. “No final, o prejuízo é sempre do criador”, afirma Euler.

Os criadores conseguem distinguir as suas aves das dos outros. “Às vezes a gente faz uma solta, fica esperando eles voltarem e acaba vendo também o pombo dos outros, que vão em direção às suas casas”, diz Euler.

E esses pombos, que são sinônimos de aversão para alguns, são os mesmos que já levaram alegria a várias pessoas. O uso dos pássaros era comum há muito tempo, quando a tecnologia ainda não era tão evoluída. “Antigamente as pessoas treinavam os pombos em fazendas. Dessa forma, era só soltar o pássaro na cidade e ele voltava ao lugar em que foi treinado, com uma mensagem”, contou Euler, que cria pombos-correio há mais de 40 anos.

O descendente de irlandeses se apaixonou pela ave quando, aos três anos de idade, ganhou de amigos da família seu primeiro casal de pombos. Ainda não eram pombos-correio, espécie que ele só conseguiu adquirir ao completar 11 anos. “Quem tinha bons pombos não gostava de vender”, relembra. A família toda participava, mas foi ele quem construiu sozinho seu primeiro pombal.

Euler conta que a maior dificuldade na criação é conciliar o trabalho com o tempo necessário para se dedicar aos pássaros. Ele gasta de três a quatro horas por dia, mas não reclama. Para ele essa atividade significa mais que um hobby . “É uma higiene mental. Tudo o que se faz que tem trabalho e lazer se torna prazer”, reflete.

Desmentindo crenças, os pombos correios não eram usados para enviar mensagens de amor aos namorados. Entre as suas funções prioritárias estava a de enviar notícias às famílias, em caso de viagem. Isso porque o dono só pode enviar mensagens à sua própria casa, que o pombo consegue localizar mesmo a mais de mil quilômetros de distância.

A espera pela volta do pássaro pode mudar a vida de algumas pessoas. Num certo dia, Euler Nunan recebeu um pombo-correio em sua casa, mas não tinha conhecimento do dono dele. Sabendo que a ave tende a retornar ao local onde foi criada, ele escreveu um bilhete e depois a colocou em liberdade. Poucos dias depois, recebeu um telefonema. “Essa história me marcou muito. Quem me ligou foi o dono do pombo, na época presidente da Federação Columbófila Brasileira. Ele me ligou agradecendo por eu ter soltado o pássaro e desde então mantemos contato. Hoje, somos verdadeiros amigos”, detalhou.

No Brasil, a prática é ainda pouco incentivada. “Minas Gerais é o estado que apresenta o maior número de columbófilos de todo o Brasil, sendo Belo Horizonte a cidade com o maior número de criadores”, disse o professor de Engenharia da PUC Minas, Antonius Henricus. Mas ele afirmou que ainda são poucas as pessoas que preferem criar pombos a outros animais, até porque o hobby (que é a forma como Antonius define a prática) exige tempo, dedicação e disponibilidade financeira.












Michelle Beckmann

Legenda: Saudosos, os pombos sempre retornam aos seus lares

7 comentários:

Unknown disse...

Oi pessoal,
ainda acho que a pauta não se refere adequadamente à proposta de jornalimo cultural, embora esteja bem redigida. Acho importante rever algumas legendas, nas quais aparecem o nome 'legenda'.
Geane

8o JN 1/2007 disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
8o JN 1/2007 disse...

Adorei a matéria, mas não sei se é adequada para pauta de cultura. Com certeza se enquadra no tema cidade invisível, pq nunca imaginei que existiam pombos-correio em BH.

Andréa

8o JN 1/2007 disse...

achei a pauta muito legal. só acho que faltou um texto mais atrativo, pra prender a atençao da gente. mas achei bem bacana.

fabio correa

8o JN 1/2007 disse...

Legal a matéria. Se encaixa bem na idéia da cidade invísivel. Moro próximo ao Minas Brasil e não imaginava que algo desse tipo pudesse estar tão próximo. Na verdade não imaginava que ainda hoje existissem pombos-correio.

Tatiana

8o JN 1/2007 disse...

Não imaginava que existissem pombos-correio no século XXI... mas fiquei na dúvida se a matéria cabe na editoria de cultura. Achei o texto tb muito informativo e pouco literário. Ana Carolina

8o JN 1/2007 disse...

Matéria bem feita. Bem informativa. Faltou um texto mais atrativo e, como a maioria das matérias aqui, tem um texto muito grande para a internet.